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04 dezembro 2012

John Lasseter


John Lasseter revolucionou o cinema de animação, depois revolucionou de novo, e de novo. Steve Jobs o chamava de gênio. Seu novo filme, Valente, é mais uma prova de seu talento.


A imagem que o americano John Lasseter passa a quem o encontra pela primeira vez é de um americano bochechudo que cresceu demais e não se conforma em já ter completado 55 anos. Ele costuma vestir calças jeans e camisas havaianas largas e coloridas, mesmo numa cidade fria e nevoenta como Edimburgo- onde esteve em junho deste ano para o pré-lançamento do longa metragem de animação Valente. Ambientado na Escócia medieval, o filme estreou no Brasil em 750 salas nas versões 2D e 3D. Os olhos azuis e astuciosos por trás dos óculos redondos se fixam no interlocutor. Quando Lasseter começa a falar, sua voz forte e incisiva formula raciocínios com tanta objetividade e visão de negócios que fica difícil pensar que se trata de um artista - um dos maiores da atualidades. Seu amigo (e, por 20 anos, chefe) Steve Jobs, fundador da Apple, afirmou que Lasseter é um dos poucos gênios que conheceu. A criatividade alucinante, e o sucesso de filmes como Toy Story e Monstro S.A., comprova que a maior parte dos fãs de cinema concorda com Jobs.

         Desde cedo, John Alan Lasseter se apaixonou pelo que faria a vida inteira: animação. 
Ele nasceu em Los Angeles, "a meia hora da Disneylândia". como diz. Frequentava o parque da Disney desde criança. A mãe, Jewell, era professora de arte num ginásio, e o pai, Paul, gerente da Chevrolet. Jewell o influenciou na paixão pelas histórias de aventura e pelo desenho. Paul lhe despertou o gosto pelos carros e locomotivas. Quando assistiu ao desenho animado A espada era a lei, em 1963, o menino John decidiu que se tornaria animador. Em 1975, ingressou no curso de animação no Califórnia Institute of Arts de Los Angeles. Ali, tomou lições de Eric Larson, Frank Thomas e Ollie Johnston, três fundadores da Disney, pertencentes ao legendário grupo dos "Novos Anciãos" - os desenhistas animadores que tomaram parte nos primeiros filmes do estúdio, como Branca de Neve e os Sete Anões (1937) e Pinóquio (1940).          

Ao lado de colegas com o os futuros diretores Tim Burton (com quem trabalharia na animação sobre super-heróis Os incríveis, de 2004), Lasseter fez seus primeiros desenhos animados. A vida profissional começou em 1980, quando foi contratado pela Disney. Entre seus trabalhos, destacou-se a colaboração no desenho animado O conto de Natal do Mickey, de 1983. Demitido pela Disney num dos muitos cortes que o estúdio realizaria a partir de então, Lasseter especializou-se em computação gráfica, uma área desconhecida e quase esotérica na época.  Entrou para a Lucasfilm como designer que criava fundos e papéis de paredes de computadores.
Poderia ter passado o resto da vida desenhando peixinhos e rosáceas se outro gênio não tivesse cruzado seu caminho em San Francisco, em 1986: Steve Jobs. Jobs acabava de comprar por US$ 10 milhões, a divisão de computação gráfica da Lucasfilm, criada em 1979 por George Lucas. Jobs rebatizou-a de Pixar (palavra resultante da soma de "Pixel", a unidade de elementar da imagem gráfica, e "art") com o objetivo único de desenvolver um computador da Apple, o Pixar Image Computer. O fracasso do aparelho e a convivência com Lasseter convenceram-no a transformar a empresa na Pixar Animation Studios para produzir filmes de animação. Jobs ficou impressionado com a habilidade de Lasseter em desenhar e criar histórias. O fato decisivo para a conversão da Pixar em estúdio se deu com Luxo Jr, animação em que Lasseter trabalhava desde os tempos de George Lucas, sobre um abajur esperto. Ela ganhou  o Oscar de Melhor Curta-Metragem de 1986. O filme inaugurou a animação digital e foi adotado como logotipo da própria Pixar. Por decisão de Jobs, Lasseter se tornou o supervisor de todas as produções do estúdio desde então. 
Gênios não costumam se fazer sozinhos. Jobs e Lasseter aprenderam um com o outro. "Com o tempo, Steve e eu se tornamos irmãos e nos mantivemos próximos até sua morta", disse Lasseter à entrevista. 'Entre muitas coisas, aprendi duas com ele. Ele me disse: Faça da Pixar algo tremendamente grande". E me deu um conselho: "Lembre-se que tudo o que você fizer deve se transformar em algo que deve sobreviver a você". Eu produzo computadores. Você, obras de arte'. Ele me fez prestar atenção aquilo que eu fazia de melhor: "arte de animação". Nove anos depois, em 1995, Lasseter lançava Toy Story, o primeiro longa-metragem de animação digital da história. De alguma forma, Jobs enxergou em Lasseter uma projeção de si próprio. Só que, em vez do inovador tecnológico, encontrou nele o iniciador de uma espécie inédita de artista. Lasseter estava transferindo a fantasia para um ambiente jamais percorrido pelo homem, a animação digital. Como Jobs, ele promoveu não uma, mais várias revoluções no interior desse mundo novo, desbravado à medida que era inventado.
São quatro as suas inovações mais visíveis.A primeira é a citada fundação do filme de animação digital. com Toy Story. A segunda é que, além de elaborar os parâmetros técnicos de nova linguagem, ele soprou espírito no novo tipo de obra. Diante do esgotamento das fórmulas tradicionais, renovou a dramaturgia da animação e superou os padrões das antigas fábulas Walt Disney (1901-1966). Com os roteiros de Vida de Inseto (1998), Procurando Nemo (2003), Carros (2006) e Up - Nas alturas (2009), a história infantil deixou de ser uma repetição de modelos inspirados em figuras clássicas da literatura infantil - como Branca de Neve ou a Bela Adormecida. Surgiram os clássicos modernos da animação, com personagens novos e fascinantes e a ambição de ir além do público infantil. Um dos mantras de Lasseter é o seguinte: "A pixar não faz filmes infantis. Faz filmes para todo mundo: crianças, adolescentes, adultos e famílias".
A terceira revolução se deu na fase mais turbulenta do estúdio. Em 2006, Jobs vendeu a pixar para a Walt Disney Pictures, por US$ 7,4 bilhões, dando a origem à Disney Pixar. O medo de Lasseter era que a Disney se apossasse da criatividade dos animadores da Pixar e transferisse as operações da velha sede, em Emeryville, nos arredores de San Francisco, para Hollywood. Mas Jobs impôs duas condições para a venda: a autonomia da Pixar e a contratação de Lasseter com supervisor artístico de toda a operação da Disney e da Pixar. A consequência para a Disney foi um salto evolutivo que parecia improvável: além de modernizar as tramas, Lasseter reabilitou o venerável departamento de animação analógica. Recontratou desenhistas e artistas que haviam sido dispensados anos antes. "Era algo que devia a mim mesmo, já que tinha iniciado minha vida artística ali", diz. "Sabia, que os artistas não deviam ser penalizados pelas histórias ruins dos desenhos animados que o estúdio lançava. Não era um problema da tecnologia, mas de qualidade do conteúdo".















Foi assim que, em 2009, a Disney lançou A princesa e o sapo. Além de ser o primeiro longa-metragem de animação tradicional desde o malfadado Nem que a vaca tussa (2004), sua heroí­na não pode ser tecnicamente chamada de princesa. Na realidade, trata-se de uma jovem pobre de New Orleans que sonha em montar um restaurante. Antes de realizar seu projeto, ela própria vira sapo. Dessa forma, Lasseter convidava o público a voltar ao desenho animado tradicional e a aceitar uma princesa feminista e negra. Foi um sucesso, repetido no final de 2010 com a animação digital em 3D Enrolados, estrelada por uma princesa Rapunzel que foge da torre e se apaixona pelo chefe de um bando de ladrões. A maior inovação de Lasseter na Disney foi ter abolido um personagem que gozou de respeitabilidade por mais de sete décadas: o Príncipe Encantado. “Levei à Disney a imaginação da Pixar, e vice-versa”, diz.

Agora, com Valente, ele inicia sua quarta revolução. Avança na simulação de texturas e materiais da natureza, como cabelos e florestas, além da trama da lã escocesa. Até então, os personagens da Pixar pertenciam ao mundo dos brinquedos e das figuras fantásticas. Em Valente, os protagonistas são seres humanos de carne e osso, ou melhor, bits e pixels. É como se o espectador assistisse a um filme realista sem atores. Ou quase. Valente é também o primeiro conto de fadas da Pixar e traz sua primeira heroína feminina, a princesa Merida. Até então, a Pixar era conhecida por fazer animação de e para meninos.
A ideia de uma heroína surgiu da mulher de Lasseter, Nancy Robbie Coltrane, com quem ele é casado há 26 anos. “Logo depois da primeira projeção de Toy story, Nancy reclamou: ‘Estou cansada de ver filmes de menino. Você não poderia fazer um filme com uma personagem feminina forte para mim e para suas sobrinhas?”’, diz Lasseter. “Eu não havia pensado nisso porque, para nós, do núcleo fundador da Pixar, todos ‘meninos’, parecia natural criar nossas histórias do jeito que víamos o mundo. Foi então que comecei a pensar no assunto. E, até Valente, fizemos animações principalmente para meninos. Valente é sobre uma menina e para meninas. Mas tomei medidas para que os meninos se divirtam com as estripulias de Merida. Os três irmãos mais novos dela são bagunceiros e se metem em muitas lutas, encrencas e correrias.” A atenção de Lasseter com os garotos é inevitável, até porque ele tem cinco filhos homens, com idades entre 14 e 33 anos. Sempre consultou-os e levou-os para as projeções de teste para dar seu aval. “Isso não quer dizer que eu mantenha distância delas”, afirma. “De minha mãe a minha mulher, passando por muitas funcionárias da Pixar e da Disney, sou rodeado por mulheres fortes!”

Lasseter é tão fortemente ligado ao trabalho quanto à família. Participava de uma conferência sobre computação gráfica quando conheceu Nancy. Na ocasião, ela era ainda estudante. A mulher o arrastou de volta aos prazeres da vida. Em 1992, o casal comprou uma propriedade em Glen Ellen, no Vale de Sonoma, na Califórnia. Ali, mantém um vinhedo e uma vinícola que produz quatro rótulos varietais a preços acessíveis. “Adoro cultivar uvas, produzir vinhos e conviver com a família e os amigos”, diz. “Não é fácil harmonizar a qualidade de vida e a supervisão dos dois estúdios, mas faço questão de reservar um tempo para mim.” Sua agenda é apertada, já que divide seu expediente entre compromissos em Los Angeles e San Francisco. Ainda assim, consegue acompanhar corridas de carro e viajar a bordo de sua velha locomotiva – a Marie E., que um dia pertenceu ao animador da Disney Ollie Johnston – entre sua casa e a Disneylândia. São hábitos de um menino crescido que fez fortuna com o trabalho da imaginação. Até hoje, os 12 longas-metragens da Pixar em que ele trabalhou renderam US$ 7,4 bilhões. Como a maioria das animações da Pixar anteriores, Valente foi o filme mais visto no fim de semana da estreia, na penúltima semana de junho. Atingiu a bilheteria de US$ 200 milhões na semana passada, quando ocupava o terceiro lugar entre os sucessos da temporada nos Estados Unidos.

Se a recepção do público tem sido calorosa, a crítica emitiu sinais variados. Muitos se decepcionaram e afirmaram que Valente é o filme mais “disneyficado” da Pixar – leia-se “banalizado”. Um conto de fadas com uma princesa leva a pensar no modelo Disney. Mas há dois detalhes significativos. Primeiro, Merida é uma princesa independente e avessa a príncipes. Segundo, o argumento não é tirado dos irmãos Grimm ou de Charles Perrault, como na Disney, e sim da própria equipe do estúdio. Valente é uma criação original de Brenda Chapman, animadora que esteve à frente da direção do longa-metragem desde 2006. Teria sido a primeira animação do estúdio dirigida por uma mulher. Mas Lasseter substituiu-a no início deste ano por Mark Andrews. “Foi um procedimento rotineiro”, diz Lasseter. “A história não andava, foi nossa produção mais demorada e precisávamos agilizar o processo.” Andrews encarou o trabalho como uma convocação. “Observo a regra fundamental da Pixar: obedecer a John Lasseter. Ele percebeu que a história não andava, estava centrada demais no conflito entre mãe e filha. John e eu gostamos de aventura. Brenda deu uma contribuição fantástica para mostrar a delicadeza da relação entre Merida e a rainha. Mas era preciso atrair também os meninos.”

Boa parte dos cinéfilos ficou fascinada pelas inovações técnicas, como a simulação dos cabelos vermelhos, as paisagens das Highlands da Escócia e seus animais, como peixes, ovelhas e vaga-lumes. “Criamos softwares de simulação, mas a evolução tecnológica depende de nossas necessidades estéticas, e não o contrário”, afirma Lasseter. “Os programas foram elaborados para narrar visualmente uma história que deve surpreender por simular um mundo plausível, com animais, plantas e seres humanos irreais, mas que parecem vivos.” As aventuras de uma princesa escocesa de 16 anos que, no século XIII, manobra o arco, se embrenha na selva e se recusa a casar com um dos três pretendentes que a disputam num torneio de arco chamou a atenção. Alguns resenhistas viram um caráter gay em Merida. Adam Markovitz, da revista Entertainment Weekly, transformou Merida em símbolo para o orgulho homossexual. Para Chris Heller, da prestigiosa revista mensal The Atlantic, o filme não diz se ela é gay: “O que importa é que ele faz o espectador se questionar sobre isso”. Lasseter diz que buscou construir uma princesa nada convencional. “Algo parecido com que eu fiz na Disney com Tiana (de A princesa e o sapo) e Rapunzel”, afirma. “É uma personagem ainda mais radical com que as meninas de hoje podem se identificar. Uma princesa da Pixar, não da Disney.”

Um dos pontos de honra na visão de mundo de Lasseter é conservar a pureza da imaginação infantil em tempos de ceticismo e deboche. “Creio no conto de fadas”, afirma. “Continuei a acreditar mesmo quando os estúdios concorrentes passaram a fazer paródias de histórias infantis, com Shrek, na tentativa de abalar certos hábitos da audiência e, assim, obter boas bilheterias. O que tentei fazer foi restituir o poder à fábula.”
O pensamento vivo de Lasseter (Foto: Matt Sayles)
De acordo com ele, a chave para o futuro da animação é não se prender à tecnologia. “Eu me aperfeiçoei em computação gráfica como uma ferramenta de trabalho”, diz. “É preciso acompanhar e dominar a tecnologia. Mas não é ela que produz grandes animações, e sim a história que elas têm a contar.” Para atingir a excelência, o artista deve estudar tanto os fundamentos da animação quanto os da narrativa. “Não existe segredo em narrar uma história ou montar um roteiro. Basta imaginar um personagem que desencadeie as ações e seguir os pressupostos que vêm sendo desenvolvidos há 2 mil anos, desde Aristóteles”, diz. “É preciso conhecer como se faz um roteiro em três ou quatro atos. A regra de ouro do sucesso é romper as fórmulas, sem deixar de compreendê-las em profundidade.”
Se há um sonho impossível que esse mestre jovial gostaria de realizar, seria encontrar Walt Disney. O que diria a seu inspirador? Lasseter não sabe responder: “Talvez ficasse mudo”. Ou declarasse quanto gosta desde pequeno do desenho 101 dálmatas, de 1961, para ele o auge dos anos dourados dos estúdios. Um mundo que, com seu trabalho revolucionário, ele ajudou a manter vivo.









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